Conceito de Violência

Lilén Gomez | Outubro 2022
Professora de Filosofia

O termo violência vem do latim violentaia, cujo significado é “agir com força ou vigor abundantes”. Por sua vez, da mesma raiz, vīs, que se traduz como ‘força’, deriva o verbo violāre, que se refere a ‘violar’, ‘agredir’. Existe certo consenso entre várias disciplinas dedicadas ao estudo da violência quanto à definição dela como um exercício de força, física ou não, implícita ou explícita, com o objetivo de obter algo sem consentimento ou contra a vontade de outro indivíduo, causando-lhe assim o mal.

A complexidade do fenómeno da violência, bem como a multiplicidade dos campos disciplinares a que se refere o seu estudo, faz com que, em muitos casos, as violências genéricas sejam faladas antes da violência singular, ou seja, violência física, simbólica, psicológica, estrutural, institucionais, etc. Deve-se notar que certas formas de violência não consistem no exercício da força de um determinado sujeito sobre outro, mas ocorrem de forma difusa. É o caso, por exemplo, da ideia de violência simbólica —desenvolvida por Pierre Bourdieu (1930-2002)—, que implica a interiorização, no marco das relações de dominação, dos esquemas de pensamento e valorização dos atores dominantes, pelos sujeitos dominados.

Violência individual e violência estrutural

Em geral, pode-se afirmar que o exercício individual da violência responde ao desenvolvimento de certas condições que a tornam possível, geralmente, menos evidentes do que o ato explícito de agressão como resultado final de uma cadeia de violência anterior. Nesse sentido, as causas do ato violento —localizadas no tempo e no espaço e realizadas por atores específicos— se inscrevem em contextos históricos e sociais mais amplos.

Assim, no que se refere à agressão manifesta, há uma tendência a buscar sua explicação em traços do caráter, psicológicos ou de personalidade do agressor (ou mesmo da própria vítima), de modo que se perdem de vista as condições estruturais de diversos sinais (econômicos, políticos, raciais, patriarcais) que fundamentam tais comportamentos.

Violência de gênero

A violência de gênero é entendida como qualquer comportamento agressivo, seja físico ou psicológico, exercido sobre uma pessoa em razão de seu sexo, gênero, orientação ou identidade sexual, tanto na esfera privada quanto na pública.

Durante anos, os casos de violência de gênero, chegando ao extremo do feminicídio, foram apresentados —fundamentalmente, pela imprensa— sob a figura do “crime passional”, desencadeado pelo ciúme ou pela infidelidade como principais motivos. Essa conceituação atribuiu como causa de tais episódios os desabafos passionais, a loucura ou a emoção violenta dos agressores, provocados pelas ações das vítimas. Atualmente, esse fundamento de atos violentos contra identidades não hegemônicas é amplamente questionado, resultado da análise da violência em termos estruturais.

Em consonância com essa leitura, a violação dos direitos humanos dessas pessoas é entendida como sistemática e fruto de uma ordem social em que as mulheres (entre outras identidades) são consideradas objetos utilizáveis e descartáveis. A antropóloga Rita Segato (1951) explica a violência femicida no marco de uma desigualdade estrutural entre homens e mulheres, que assume a forma de crimes interpessoais, mas responde a um sistema impessoal, no qual o abuso e a agressão aos corpos femininos fazem parte da construção simbólica da masculinidade hegemônica.

A violência como anulação do outro

A violência, em um sentido amplo, pode ser explicada a partir da construção de relações sociais pautadas na negação do outro, ou seja, na anulação da diferença. Diferentes tipos de violência —como violência cultural, simbólica, sexual, religiosa— compartilham como traço distintivo a desigualdade no reconhecimento de outras formas de vida diferentes do que é considerado “normal” do ponto de vista dominante.

O outro, pelo fato de ser diferente, é então qualificado como sujeito perigoso, que deve ser temido, que não merece respeito e, no caso mais extremo, que deve ser aniquilado.

Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.

Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Outubro 2022). Conceito de Violência. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/violencia/. São Paulo, Brasil.

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