Entende-se por ofício (em latim officium, que se traduz como “serviço”, “cargo”, “responsabilidade”, “obrigação”, bem como “sentido do dever”), ao trabalho que se exerce habitualmente, geralmente, aprendido através da prática. Em geral, os ofícios se distinguem das profissões pelo tipo de treinamento que exigem. Por outro lado, ao nível comunicacional, os ofícios constituem instrumentos formais de registo, protocolização ou solicitação, trabalhados no âmbito do Estado, aos quais costuma promover um formulário ou modelo específico em função do que é requerido.
Na linguagem comum, as profissões são referidas como uma atividade laboral que exige um maior nível de estudo, enquanto os ofícios estão relacionados aos trabalhos manuais ou artesanais. Por esta razão, no contexto da sociedade ocidental contemporânea, os ofícios são muitas vezes considerados desdenhosamente comparados às profissões. Entretanto, cabe destacar que os conhecimentos exigidos para se exercer um ofício são tão complexos quanto os associados à prática profissional.
A noção de ofício tem suas origens no significado dado ao conceito de arte na tradição do pensamento ocidental, que remonta à Grécia antiga. Na filosofia de Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), arte e técnica confluíam no conceito de tekhné, cuja tradução latina ars será recuperada pela escolástica na Idade Média. Por volta do século XV, na Europa, as atividades que exigiam uma habilidade adquirida por meio do exercício foram identificadas como ofícios, ou seja, aprendidas na prática. Por enquanto, ainda não há classificação hierárquica entre artes plásticas e artes úteis ou técnicas, porém, as artes nobres se diferenciam das artes manuais. Assim, quem conhece as regras necessárias e é capaz de utilizá-las no exercício de um ofício será chamado de “artista” (sem distingui-lo de um “artesão”). A arte, nesse sentido, encontrava-se no próprio processo de produção —ou seja, no conhecimento dos passos a seguir e na correta execução dos procedimentos—, sem se restringir ao objeto produzido como resultado.
A dimensão da formação, portanto, é fundamental para a noção de ofício, na medida em que a formação do artista ou artesão está imbricada com a própria prática. Ao mesmo tempo, essa formação é essencialmente social, já que o ofício se ensina aos outros fazendo.
Com o tempo, a classificação aristotélica é retomada, e a noção geral de arte deu origem a uma diferenciação entre duas classes: de um lado, as artes liberais (compostas por Gramática, Retórica, Lógica, Aritmética, Geometria, Astronomia e Música) e, de outro, as artes servis ou mecânicas (abrangem um grande número de atividades como a produção de alimentos, vestuário, ferramentas, construção de edifícios e meios de transporte, troca de mercadorias, atividade militar, agricultura, entre outras). A partir dessa diferenciação feita no período escolástico, as artes, associadas às artes liberais, distinguem-se dos ofícios, ligados às artes mecânicas.
Correlativamente, no século XI, nascem nas cidades europeias os grêmios (embora eles se consolidem apenas por volta do século XIV), instituições por meio das quais os artesãos se associam de acordo com seus respectivos ofícios. Assim, as associações comerciais medievais cumprem várias funções, desde aprender e aperfeiçoar técnicas até proteger os interesses comuns e o apoio mútuo dos membros.
A profunda relação entre a prática artesanal e a prática pedagógica manteve-se nas escolas de ofícios ao longo do tempo, dando lugar na atualidade a uma ampla corrente educacional que concebe à docência como um ofício, o de docente. Nessa perspectiva, à docência é compreendida como um trabalho cotidiano, de caráter eminentemente social, voltado para a construção do conhecimento.
Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.
Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Março 2023). Conceito de Oficio. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/oficio/. São Paulo, Brasil.
