Conceito de Desesperança

Gemma Alvarado | Maio 2023
Lic. em Psicologia. Mestre em Humanidades

A desesperança é uma emoção pela qual uma pessoa sente que as alternativas para uma determinada situação estão se esgotando, deixando-a em um estado de desamparo diante dela. Da mesma forma, a desesperança pode falar da sensação de ter poucas opções no futuro e de perder o controle de sua própria vida e de suas expectativas.

O conceito de desesperança foi levantado pela primeira vez por Martin Seligman na década de 1970 nos Estados Unidos. Ele fez experimentos com cães recebendo choques elétricos e, eventualmente, descobriu que com o passar do tempo os cães pararam de resistir aos choques e perderam os reflexos vitais. Seligman chamou isso de desesperança aprendida, já que a desesperança não é um sentimento ao qual estamos acostumados.

A partir do trabalho de Seligman foi possível estudar a desesperança no campo das neurociências e da psicologia clínica, sendo um conceito muito utilizado para trabalhos sobre depressão e tendências suicidas, pois a desesperança levada ao extremo tem como efeito, perder todo o sentido da vida. É assim que se tornou um conceito crucial para estudos no campo psicológico e até psiquiátrico para se detectar condições importantes de saúde mental.

Desesperança no meio social

DesesperancaOutro aspecto da análise da desesperança como conceito é aquele analisado a respeito do campo social. Erich Fromm, um proeminente psicólogo e membro da Escola de Frankfurt, em seu livro “The Revolution of Hope: Towards a Humanized Technology” (1968), enfoca não apenas o conceito de esperança na esfera social, mas também reconhece a desesperança e com uma visão antecipada para sua época, propõe um futuro com maior desenvolvimento tecnológico mas com uma presença de desesperança social nas pessoas, tornando-se evidente na incapacidade individual e social para resolver problemas graves como a poluição da água e do ar, a pobreza e a ameaça de armas termonucleares (Fromm, 1968, 16 .) Este livro apresenta então a desesperança não apenas como um conceito individual que prevalece em pessoas com determinado diagnóstico, mas como um sentimento que também pode ser coletivo e causado pelo meio social em que se insere o indivíduo.

Neste livro, Fromm destaca a existência de duas formas de desesperança na esfera social que muitas vezes são facilmente confundidas com a esperança. A primeira é a espera passiva, que se coloca como o fenômeno de pensar ansiosamente sobre o tempo futuro, mas sem fazer nada no presente que leve a esse futuro. Para Fromm, esse fenômeno é uma forma de desesperança, pois permanece a crença “não sou nada e não posso fazer nada; mas o futuro, a projeção do tempo, realizará o que eu não consigo” (Fromm, 17). O que acontece nessa espera passiva é que a responsabilidade é dada às circunstâncias do futuro e vivemos uma espera que pode não ser frutífera, razão pela qual para Fromm representa uma forma encoberta (ou inconsciente) de desesperança.

A segunda forma de desesperança é a violência fora da realidade das circunstâncias, onde figuras que podem ser consideradas líderes messiânicos (ou seja, pessoas com alto carisma, que atraem outras pessoas por meio de discursos atraentes), colocam uma realidade completamente diferente da realidade existente e até mesmo impossível e repudiam violentamente a realidade que se vive no presente. Nessa forma de desesperança, a pessoa deposita sua esperança em uma figura que apenas propõe uma alternativa para o futuro, mas não convida a ações concretas para essa alternativa, relegando a responsabilidade individual de resolver seu próprio futuro.

Seja qual for a forma de desesperança, a obra de Fromm trouxe para a discussão a desesperança não como um sentimento meramente individual, mas como um sentimento coletivo e contagiante que muitas vezes é provocado por um ambiente social e/ou político. É também um sentimento que traz consigo frustração e impotência diante da incapacidade de resolver situações que prejudicam os projetos pessoais e sociais.

Concluindo, a desesperança é um sentimento comum, pois todos nós em algum momento da vida perdemos ou delegamos a capacidade de resolver uma situação que colocava em risco um projeto ou objetivo, também perdemos a esperança de que o futuro traga uma situação melhor, ou temos esperado que as coisas cheguem sem fazer algo concreto para alcançá-las. Mas é importante entender que não é uma sensação com a qual costumamos interagir o tempo todo.

Independentemente de ser um sentimento individual causado por uma condição específica ou de as condições sociais e políticas nos inspirarem a nos sentirmos desesperados, não é um sentimento que deva ser normalizado. A esperança, que é o sentimento oposto, convida sempre à ação, à resistência, à resolução e ao fazer para construir um futuro e resolver situações e obstáculos como o maior sinal de vontade e capacidade de sobrevivência.

Foto: iStock – Martin Dimitrov

Artigo de: Gemma Alvarado. Licenciada em Psicologia. Mestre em Humanidades pela Universidade Autônoma do Estado de México.

Referencia autoral (APA): Alvarado, G.. (Maio 2023). Conceito de Desesperança. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/desesperanca/. São Paulo, Brasil.

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