Conceito de Adolescente/Adolescência

Agustina Repetto | Janeiro 2023
Licenciada em Psicologia

O adolescente é uma pessoa que está entre a infância e a idade adulta. Período marcado pela maturação biológica e psicossocial, correspondendo aproximadamente à faixa etária de 10 a 19 anos.

No lugar de falar em “adolescência” seria mais pertinente falar em “as adolescências”, no plural, pois há tantas formas de passar por tal ciclo de vida quanto há adolescentes. Os adolescentes são sujeitos de uma época e suas biografias se entrelaçam em um contexto sócio-histórico, econômico e político, onde cada cultura possibilita e promove determinados modos de ser, modos de se comportar, institui significados e imaginários sociais, ao mesmo tempo, em que sanciona e proíbe outros.

Por exemplo, existem adolescentes que, dependendo das condições materiais em que vivem, podem ter acesso a diversas ofertas culturais ou socializar através de redes virtuais; há adolescentes em situação de consumo problemático; e há alguns cujas famílias os controlam e outros que não. Assim, o plural nos alerta para a heterogeneidade das experiências vividas, da diversidade das trajetórias vitais, não apenas em diferentes coordenadas de tempo e espaço, mas também dentro de uma mesma geografia. Nesse sentido, poderíamos nos perguntar o que significa ser adolescente hoje, ou seja, que subjetividade se estabelece em nossa cultura, quais são os desafios que os adolescentes enfrentam hoje e os problemas que enfrentam como sujeitos da época.

O adolescente é comumente associado à ideia de mudança, crescimento e movimento; e a adolescência como um período do desenvolvimento que envolve a transição entre a infância e a idade adulta. Mas, a partir da psicologia do desenvolvimento, não nos basta situar os adolescentes numa perspectiva puramente cronológica como indivíduos que possuem uma certa idade ou a partir de um mecanismo exclusivamente biológico que marca o início da puberdade, mas sim, como diz Ricardo Rodulfo, Doutor em Psicologia, ao adolescente será exigido algo mais: ele vai ser obrigado a cumprir uma série de tarefas psíquicas, por isso não basta ter uma certa idade para que isso aconteça, mas sim que o adolescente conquiste certas aquisições simbólicas. Essa perspectiva nos situa na ideia de conceber os adolescentes como sujeitos ativos e dinâmicos.

Os trabalhos psíquicos do adolescente

O trabalho psíquico que o adolescente deve realizar envolve necessariamente tempos mais lógicos que cronológicos e em seu desenvolvimento é muito provável que surjam conflitos que se manifestarão comportamental, psicológico e emocionalmente de acordo com cada indivíduo. Estes trabalhos são operações simbólicas que se podem esperar na passagem da infância para a idade adulta, pelo que constituem um desafio para todos os que atravessam este ciclo vital. Vejamos alguns:

– As mudanças produzidas no corpo exigem da psique a subjetivação das transformações ocorridas. Este processo pode por vezes apresentar conflitos, pois, por um lado, implica o luto pelo corpo infantil e, por outro, a identificação e reapropriação de um corpo que pode até parecer estranho e alheio. O conflito aqui se traduz em uma dificuldade do indivíduo em se sentir confortável com seu próprio corpo. Dificuldade que pode até ser aprofundada pelos rígidos padrões de beleza impostos pela sociedade. Em outras palavras, a dificuldade em internalizar as mudanças que ocorrem biologicamente pode ser somada ao desconforto gerado pelos estereótipos de beleza hegemônicos e socialmente valorizados.

– A saída para a exogamia é um movimento que representa uma passagem do familiar para o extrafamiliar em que o adolescente vai tendo gradual e progressivamente maior autonomia. A consequência dessa passagem é que o adolescente se volta para o campo social. Nesse movimento, o social aparece pela primeira vez como mais importante do que a família. Daí a especial importância da função simbólica do conceito de “amigo”. Mas não no sentido de estabelecer vínculo afetivo com um outro real, ou seja, ter ou não amigos, mas sim como possibilidade de instauração psíquica da categoria, que funciona como uma ligação entre o familiar e o não familiar. Para Freud, isso ocorre no final do Complexo de Édipo, implicando distanciamento ou afastamento das figuras parentais, ou seja, o adolescente pode tomar como objeto de amor sujeitos fora de sua família. O conflito nessa passagem pode representar não apenas uma dificuldade em estabelecer relações sociais fora do ambiente familiar, mas também uma dificuldade de o indivíduo conseguir escrever seu próprio roteiro vital ou projeto de vida, independentemente do que as figuras significativas esperam dele. Este é o momento em que o indivíduo começa a ver o mundo a partir de sua própria perspectiva, o que lhe dá a oportunidade de fortalecer suas características pessoais e descobrir ou desenvolver sua identidade.

– A construção da identidade se dá a partir de uma necessária reorganização das identificações, em que o indivíduo deixa de ter o familiar como sua única base e passa a se apoiar em seu grupo de pares. Este movimento implica a construção de um projeto de identidade própria. Os conflitos aqui podem surgir quando o indivíduo faz parte de grupos de pares e de pertencimento com padrões de comportamento muito rígidos, nos quais a heterogeneidade e a diversidade não são permitidas. O conflito aqui apresentado é que para pertencer é preciso deixar de ser.

– A sexualidade também exige do psiquismo um esforço de trabalho em todas as suas dimensões: orientação sexual, identidade de gênero, vínculo afetivo e reprodução. A adolescência é a fase em que os desejos e aspirações sexuais podem se materializar com um outro igualmente desejante. Portanto, vivenciar a sexualidade de forma saudável implica o auto e heterocuidado, o desenvolvimento e reconhecimento de práticas geradoras de prazer e as responsabilidades necessárias para vivenciar a sexualidade sem medo, vergonha ou culpa. Os conflitos que aqui se podem vivenciar são múltiplos, uma vez que a sociedade tende a criar tabus em torno da sexualidade e centrar-se apenas na prevenção de riscos como a gravidez indesejada e a contração de infeções sexualmente transmissíveis, invisibilizando todas as outras dimensões que promovem o desenvolvimento de uma sexualidade positiva, prazerosa e respeitosa.

Artigo de: Agustina Repetto. Graduada em Psicologia, pela Universidade Nacional de Mar del Plata. Atualmente é pós-graduanda em Sexualidade Humana: sexologia clínica e educacional a partir da Perspectiva de Gênero e Direitos Humanos.

Referencia autoral (APA): Repetto, A.. (Janeiro 2023). Conceito de Adolescente/Adolescência. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/adolescente/. São Paulo, Brasil.

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